quinta-feira, 13 de março de 2008

Microeconomia

POR QUE ESTUDAR MICROECONOMIA?
Acreditamos que, após a leitura deste texto, você não terá dúvidas sobre a importância e a ampla
aplicabilidade da microeconomia. Na realidade, um de nossos maiores objetivos é mostrar a você como aplicar
princípios microeconômicos aos problemas reais de tomada de decisão. No entanto, um pouco de motivação
extra no início de algo não faz mal a ninguém. Aqui estão dois exemplos que apresentam o uso prático da
microeconomia.
A TOMADA DE DECISÕES NAS EMPRESAS: OS VEÍCULOS UTILITÁRIOS DA FORD
Em 1991, a Ford Motor Company lançou o Explorer, que veio a se tornar o veículo utilitário mais vendido nos
Estados Unidos. Depois, em 1997, a Ford lançou o Expedition - um utilitário com design aiais moderno,
maior e mais espaçoso. Esse carro também teve um enorme sucesso e contribuiu de inodo significativo
para os lucros da Ford. O sucesso desses produtos levou a empresa a lançar, em 1999, um utilitário ainda
maior e mais pesado - o Excursion. Em 2002, a Ford oferecia seis modelos de utilitários e manufaturava
mais meia dúzia por meio de suas subsidiárias Volvo, Mazda, Mercury, Lincoln e Land Rover. A eficiência
na produção desses veículos, assim como o design, envolveu não apenas avanços significativos de
engenharia, mas também vários aspectos econômicos.
Em primeiro lugar, a Ford teve de pensar cuidadosamente na reação do público ao design e ao de-sempenho
de seus novos produtos. Qual seria a demanda inicial, com que rapidez cresceria e como estaria relacionada
ao preço cobrado pela Ford? Saber as preferências do consumidor e suas opções, além; prever a demanda e
sua relação com o preço, era essencial para a Ford, assim como seria para qualquer outro fabricante.
(Discutiremos isso na teoria do consumidor).
Posteriormente, a Ford precisou preocupar-se com o custo da fabricação desses automóveis. De quanto seria
e como dependeria do número de automóveis produzidos anualmente pela empresa? De que maneira as
negociações com os sindicatos ou o preço do aço e outras materias-primas poderiam afetar os custos? Em
quanto e com que rapidez seriam reduzidos os custos à medida que administradores e funcionário s
ganhassem experiência no processo produtivo? E, para maximizar lucros, quantos automóveis a Ford deveria
planejar produzir a cada ano? (Abordaremos a produção e o custo na teoria das firmas).
A Ford também teve de elaborar uma estratégia de fixação de preços e levar em consideração a reação de
seus concorrentes a ela. Por exemplo, a Ford deveria cobrar um preço menor pela versão básica do
Explorer e preços mais altos por itens opcionais, como bancos de couro? Ou seria mais lucrativo tornar
'padrão' tais itens opcionais, cobrando um preço mais alto pelo pacote completo? Quaisquer que fossem as
escolhas da Ford, como seria a provável reação de seus concorrentes? A Daimler-Chrysler poderia tentar tirar
o mercado da Ford, estabelecendo preços mais baixos para seu veículo utilitário Grand Cherokee? A Ford
seria capaz de desencorajar a DaimlerChrysler ou a GM a baixar os preços, ameaçando responder com uma
redução de seus próprios preços?
Como a produção de seus veículos utilitários exigiu grandes investimentos em novos equipar;;: tos, a Ford
teve de considerar os riscos e as possíveis consequências de suas decisões. Parte desse risco se devia à
incerteza a respeito do futuro preço da gasolina (aumentos no preço da gasolina desestimulariam a demanda
por automóveis de maior consumo). Uma outra parte desse risco devia-se à incerteza sobre o salário que a
Ford teria de pagar a seus funcionários. O que ocorreria caso os preços do pétroleo duplicassem ou
triplicassem, ou caso o governo viesse a impor um imposto alto sobre a gasolina. Qual poder de negociação
os sindicatos teriam, e como isso poderia afetar os níveis salariais? Como a Ford deveria levar em
consideração tais incertezas ao tomar decisões sobre investimentos?
A Ford também precisou levar em consideração os problemas organizacionais, pois ela é uma empresa
integrada na qual divisões distintas produzem motores e peças e, depois, fazem a montagem final dos
automóveis. Como deveriam ser gratificados os gerentes de divisões diferentes? Qual preço deveria ser
cobrado da divisão de montagem pelos motores recebidos de uma outra divisão? Todas as peças teriam de
ser obtidas de divisões da empresa ou algumas delas poderiam ser adquiridas de fornecedores externos?
Por fim, a Ford teve de ponderar sobre suas relações com o governo e sobre os efeitos de polítcas
regulamentadoras. Por exemplo, todos os carros da Ford deveriam satisfazer os padrões federais de emissão
de poluentes e as operações da linha de produção precisariam satisfazer as normas de saúde e segurança. De
que maneira tais normas e padrões poderiam ser modificados ao longo do tempo? Como eles afetariam os
custos e os lucros da empresa?
ELABORAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS: PADRÕES PARA EMISSÃO DE POLUENTES
PELOS AUTOMÓVEIS PARA O SÉCULO XXI
Em 1970, a legislação norte-americana de controle de qualidade do ar (Clean Air Act) impôs padrões
rigorosos para a emissão de poluentes por automóveis novos. Tais padrões tornaram-se cada vez mais
restritivos - em 1999, os níveis de óxidos de nitrogénio, hidrocarbonetos e monóxido de carbono emitidos
por automóveis tinham sido reduzidos em aproximadamente 90%, em relação a 1970. Agora tendo em vista
que o número de carros nas ruas continua a aumentar, o governo norte-americano precisa pensar em quão
restritivos devem ser esses padrões nos próximos anos.
A elaboração de um programa como o Clean Air Act envolve uma cuidadosa análise dos efeitos da emissão
de poluentes pelos automóveis sobre o meio ambiente e a saúde. Mas também exige muita análise
econômica. Em primeiro lugar, o governo precisa avaliar o impacto econômico do programa sobre os
consumidores. Os padrões de emissão afetam tanto o custo da aquisição de um automóvel (seriam
necessários catalisadores, o que aumentaria o preço dos veículos) quanto seu custo operacional (o consumo
de combustível seria mais baixo, mas os catalisadores necessitariam de manutenção e reparos). Tendo em
vista que os consumidores arcam com grande parte desse custo adicional, é importante saber como isso afeta
seu padrão de vida. Isso requer uma análise teoria do consumidor. Por exemplo, será que os consumidores
usariam menos o carro e gastariam uma parcela maior de sua renda em outras mercadorias? Em caso
afirmativo eles manteriam um padrão de vida satisfatório?
Para responder a essas questões, o governo necessita determinar como os padrões exigido afetariam o custo
da produção de automóveis. Será que os fabricantes poderiam minimizar o aumento dos custos ao utilizar
outros materiais na produção de automóveis? Então o governo precisa saber como as modificações nos custos
de produção poderiam afetar o nível de produção e os preços dos novos automóveis. Os custos
adicionais seriam absorvidos ou repassados para os consumidores na forma de preços mais altos?
Por fim, o governo precisa perguntar por que os problemas relacionados à poluição do ar não se resolvem
por meio da economia de mercado. A resposta é que a maior parte do custo da poluição do ar não compete à
empresa. Se as empresas não acreditam que seja de seu próprio interesse tratar adequadamente as emissões
de poluentes pelos automóveis, qual a forma mais apropriada de modificar os incentivos, de tal modo que elas
venham a fazê-lo? Deveriam ser estabelecidos padrões ou seria mais econômico impor taxas pela poluição do
ar? Como decidir quais pessoas deveriam pagar pela despoluição, se não existe um mercado explícito para o
ar puro? O governo terá condições de resolver esses problemas? A questão final seria saber se um programa
de controle de emissão de poluentes pelos automóveis seria adequado com base numa análise de custobenefício.
Os benefícios que o ar despoluído proporcionaria em termos estéticos e de saúde, entre outros,
valem a elevação do custo dos automóveis?

RESUMO
1. A microeconomia trata das decisões tomadas por unidades econômicas individuais - consumidores,
trabalhadores, investidores, proprietários de recursos e empresas. Ela trata também da interação entre
consumidores e empresas para formar os mercados e os setores.
2. A microeconomia apóia-se bastante no uso da teoria, que (por meio de simplificações) pode ajudar a
explicar como as unidades econômicas se comportam e a prever qual comportamento ocorrerá no futuro.
Os modelos são representações matemáticas da teoria e podem auxiliar nos processos de explicação e
previsão.
3. A microeconomia trata de questões positivas relacionadas à explicação e à previsão dos fenômenos.
Porém, a microeconomia também é importante devido à análise normativa, na qual perguntamos
quais são as melhores escolhas - para a empresa ou para toda a sociedade. Frequentemente, as análises
normativas devem ser combinadas com juízos individuais de valor, pelo fato de que poderão estar
envolvidos aspectos de equidade e justiça, bem como de eficiência econômica.
4. O termo mercado diz respeito ao conjunto de compradores e vendedores que interagem, assim como às
vendas e compras que podem resultar dessas interações. A microeconomia envolve o estudo tanto dos
mercados competitivos, nos quais nenhum comprador ou vendedor tem individualmente influência no
preço, como dos mercados não competitivos, nos quais as entidades individuais podem afetar o preço.
5. O preço de mercado é determinado pela interação entre compradores e vendedores. Em mercados
completamente competitivos, um único preço geralmente prevalece. Em mercados que não sejam
completamente competitivos, diferentes vendedores podem cobrar diferentes preços. Nesse caso, o preço
de mercado será o preço médio predominante.
6. Ao discutirmos determinado mercado, devemos ser claros a respeito de sua extensão tanto em termos de
limites geográficos como em termos da gama de produtos que nele são vendidos. Alguns mercados (por
exemplo, imobiliário) são muito locais, ao passo que outros (por exemplo, de ouro) são mundiais.
7. Para dar conta dos efeitos da inflação, comparamos preços reais (ou preços em moeda constante) em vez
de preços nominais (ou preços em moeda corrente). Os preços reais são calculados por meio de um índice
agregado de preços, como o IPC, para a correção monetária.

Nenhum comentário: